Falácias Radiológicas

Muito se ouve falar de radiação por aí. Sempre mau e com certo temor. Muitos falam até mesmo impondo que tem algum conhecimento sobre, mas quando se verifica esse vasto conhecimento da pessoa, se descobre que todo o conhecimento dele vem de um ou outro artigo que leu.

O povo em geral já tem em mente a palavra RADIAÇÃO associada a bomba atômica e graves acidentes, mas em geral, esse é o problema pois só tomam conhecimento sobre radiações quando se fala de alguma tragédia ou quando se tem que fazer um exame radiológico.

Por isso é normal que as pessoas, ao chegarem no hospital só tenham em mente:

1- Radiação faz mal;

2- Não pode ser tão perigoso e fora de controle se o meu medico pediu para fazer!
Nenhum paciente tem obrigação de saber como a radiação funciona, mas também não precisa sair por aí propagando ideias erradas. Quando digo que trabalho com Radiologia, sempre tem um ou outro que arregala os olhos e diz o quanto isso é perigoso. Um amigo meu sempre pergunta se já estou brilhando no escuro e por aí vai. Na faculdade, um colega me confessou que antes de fazer o curso pesquisou bastante pois diziam a ele que trabalhar com isso causava câncer e impotência! Ainda bem que esse colega, não era uma pessoa de ir pela cabeça dos outros e pesquisou, hoje se configura um grande profissional e também professor.

Para desfazer essas ideias erradas que este post, em pagina fixa foi criado. Espero até o fim dessa postagem esclarecer algumas dessas falácias radiológicas e lançar uma luz sobre certos temas.

A primeira coisa que se deve entender é que IRRADIAR é diferente de CONTAMINAR. Em escala, é o mesmo que sair declarando que o fogo é ruim e que não se deve mexer com ele. No inicio o temíamos, mas aprendemos sobre suas propriedades, como cria-los e tendo-o sob nosso domínio, o usamos para cozinhar e inúmeras outras coisas. O que é bem diferente de quando se tem um incêndio. A definição de incêndio é “fogo fora de controle”. O mesmo é com as radiações.

A idéia de contaminação esta ligada a se ter contato direto ou indireto com uma FONTE RADIOATIVA, sendo assim contaminado, (ex.: Acidente de Goiânia); enquando na irradiação há apenas uma exposição controlada à radiação para algum fim, (ex.: Exames de diagnóstico por imagem).

Podemos definir RADIAÇÃO como o transporte de energia através do espaço, o que pode se dar na forma de ondas ou de partículas. E as radiações podem ser classificadas em IONIZANTES, que são aquelas que apresentam a propriedade de extrair elétrons de átomos, que é o caso dos raios-x, raios gama, entre outros e os NÃO-IONIZANTES, quando a sua energia foi insuficiente para “arrancar” o elétron do átomo, que é o caso da luz visível, ultrassons, e ondas de radiofrequências.

Os fatores principais envolvidos na proteção radiológica são três: Distância da fonte, Tempo de exposição e Blindagem adequada. Na verdade, a proteção radiológica é mais dependente da consciência do profissional do que de altos investimentos nesse setor. Os profissionais da Radiologia devem estar sempre preocupados com os procedimentos de proteção radiológica.
O fator DISTÂNCIA é um deles. Como a radiação diminui de intensidade na relação inversa do quadrado da distância, quanto mais longe da fonte, menos radiação recebemos. Porém sabemos que a força máxima de radiação usada na radiologia diagnóstica em geral, mesmo na tomografia, que se utiliza de doses um pouco mais fortes que no exame de raio-x, a dois metros de distancia, ela já desaparece.

O profissional da Radiologia sabe que lida com dois tipos de radiações ao executar um exame, uma é a radiação primaria e a outra é secundária da primeira, também chamada de radiação secundária ou de espalhamento. O feixe que é emitido para o exame é um raio reto, parte de suas partículas irão atravessar o alvo e impressionar o filme radiográfico. Parte desse primeiro raio colide e ricocheteia gerando uma pequena nuvem de radiação espalhada que retorna.

Para o paciente não há perigo algum uma vez que ele pode ser examinado inúmeras vezes e depois ele irá para casa e não será mais exposto. Lembre-se, irradiar é diferente de contaminar! Em relação ao profissional, além de estar distante sempre a mais de dois metros do alvo, ou seja, de onde retorna essa “nuvem de radiação espalhada”, ele ainda esta protegido atrás de um biombo de chumbo, de onde ele programa o raio. Isso é o outro fator de proteção, a “blindagem adequada”, que é o biombo de chumbo, os equipamentos de proteção como o avental plumbífero, protetor de tireoide, protetor de gônadas e outros.

Dentro desse processo todo que conversamos também se encontra outro fator de proteção, o “tempo adequado”, pois para gerar o raio, o profissional usa tempos de milésimos a centésimos de segundo. Por isso eu disse acima que mais esta relacionada a segurança radiológica com a consciência do técnico do que com altos investimentos nesse setor. Pois os fatores principais a serem respeitados para se trabalhar com radiologia são: Manter uma distancia segura da fonte, usar tempos mínimos e manter-se sempre atrás das blindagens no momento do disparo.

Sabendo disso, agora vamos desvendar os mitos radiológicos mais falados.

Mito nº1: Espelho e metais na sala se exame podem refletir a radiação?

Isso é um mito total, e essa discussão vem diretamente das primeiras gerações de técnicos em Radiologia que não tinham a priori nenhuma base em física das radiações. Brincar com esses conceitos gerou no meio radiológico até a brincadeira de dizer que o raio atirado faz curva para atingir o operador... Já já você vai entender o sentido disso também.

Para os pacientes, é preciso mesmo tirar os metais para fazer o exame pois os mesmos aparecerão na imagem atrapalhando o diagnóstico. Quanto a ter metais na sala é bobagem pois a radiação secundaria ricocheteia nela mesma após ter colidido com algo, a radiação atravessa a matéria, pode colidir contra ela pois estamos falando de partículas que estão agora colidindo até contra elas mesmas, nesse caso, não precisa ser metal.

Quando estudamos a geração de imagem, vemos que parte da radiação atravessa a matéria e parte é “absorvida” ou seja, algo de maior densidade, como os ossos por exemplo, barraram parte da radiação, gerando assim no filme “uma sombra em negativo”. Ainda em sala de aula vemos que a radiação tem as mesmas propriedades da luz e a luz é entendida tanto como onda como quanto partícula. Por isso, usamos a luz para delimitar o campo de irradiação.

Algumas pessoas, confusas com esse pensamento quântico sobre a luz ser partícula e ser matéria, e sabendo que a radiação se comporta igual, se preocupou em retirar espelhos da sala, uma vez que o espelho reflete a luz, refletiria também os raios ou mesmo ajudaria a propagar a radiação secundária. Porém não é assim que ocorre, estamos falando de uma forma de energia que se comporta como a luz, e não da luz, para a radiação, um espelho é um objeto como outro qualquer e ela o atravessa como atravessa qualquer coisa!

Mito nº2: Trabalhar com Radiologia causa impotência?

Esse é um mito absurdo, difundido sempre por leigos que confundem trabalhar com Radiologia e ser tratado de câncer de próstata com Radioterapia e Quimioterapia. Pode acreditar, as pessoas fazem essas misturas insensatas mesmo sem raciocinar sobre. Muitas vezes apenas ficaram sabendo do caso de alguém que teve problemas se tratando de câncer, ao contar para alguém essa pessoa comenta o quanto é perigosa à radiação e quando o assunto surgir para essa segunda pessoa ela conta o caso já colocando em cima a ideia de que trabalhar com radiação é algo perigoso e causa impotência e por aí vai sempre crescendo a história.

Bom, penso eu que só pode ser daí que esse pensamento tenha surgido na mente de populares, porém, que fique bem claro que nem mesmo os pacientes que se tratam de câncer de próstata com radio e químio ficam impotentes. Na verdade, o tratamento destes, pode ou não levar a impotência, a final, ter na região da próstata um câncer sendo bombardeado com radio e químio é complicado, mas são vários os fatores que poderão ou não leva-lo a impotência, e não somente o tratamento.

Mito nº3: Trabalhar com Radiologia da câncer?

Acima falei da radiação secundária, que é a que pode atingir o radiologista. A preocupação que temos é com os efeitos estocásticos da radiação. Isto é, os efeitos que podem ocorrer em função de doses absorvidas dessa radiação secundária. Lembrando que o Radiologista está protegido a uma distancia onde essa radiação já desaparece, ele está protegido por blindagem, o biombo de chumbo, equipamentos de proteção e etc, e também para gerar o raio, são usados tempos de centésimos ou milésimos de segundo. Tudo acontece rapidamente no momento do disparo.

Para proteção do profissional das técnicas Radiológicas é que existe o dosímetro. A grosso modo falando, trata-se de um medidor de dose absorvida. Esse dosímetro é trocado mensalmente sendo levado a um laboratório de analise que determinara o quanto de dose aquele profissional esta absorvendo.

Mas antes que isso cause qualquer susto, quero que fique claro que as doses permitidas a serem encontradas nesses valores são tão baixas que estão muito abaixo do nível que causa qualquer mínimo dano ao homem, e para ter noção disso, não querendo falar de números aqui, até para que o blog fique fácil a leitura de leigos e estudantes, os valores que por lei podem ser encontrados nesses resultados estão abaixo até mesmo do novel de radiação recebidos pelo raio ultravioleta em um simples passeio ao sol da tarde!

Sabendo disto, também é bom dizer que não há um único estudo se quer que correlacione câncer a profissão de Radiologia, seja técnico, Tecnólogo, Médico, Fisico Médico... Em fim, se a pessoa teve um câncer, teve porque tinha pré disposição a desenvolver a doença, nada tendo a ver com a Profissão. E se forem vistos os dados das pesquisas sobre câncer, e relacionados à profissão, a Radiologia nem se encontra no quadro.

Mito nº4: Trabalhar com Radiologia causa esterilidade?

Acredito que o surgimento deste mito tenha sua origem parecida com a que falei no caso do câncer de próstata e impotência, nesse caso aqui, relacionado com os casos de mulheres em tratamento radioterápico do câncer de colo de útero.

Trabalhar com Radiologia não causa câncer, não causa impotência nem tão pouco esterilidade. Acredito que se fosse assim, ninguém iria querer trabalhar na Radiologia. E mesmo, sendo ela uma profissão tão importante, se os riscos fossem esses, é lógico que já se teria criado algum método de trabalho a distancia ou qualquer coisa que fosse segura... Concorda? Existe fiscalização, monitoramento sobre quanto o profissional está absorvendo, e como já expliquei, acabam sendo doses infímias! Os populares que insistem em falar dos riscos absurdos são alarmistas, e nem adianta discutir. Essas pessoas não estão querendo entender nada, apenas expor uma opinião alarmista e parecer inteligente com isso... Se você esta aqui lendo tudo isso, é claro que então é uma pessoa que pensa, que pesquisa, então, nem perca seu tempo com esses tipos de pessoas ou ideias.

Mito nº5: Gestantes perdem o bebê se forem expostas ao raio-x

A quantidade comprovada de radiação para lesar um feto é muito maior do que a emitida diretamente por um exame radiografico. A algumas decadas não existia ainda o exame de ultrassom, que não emite radiação e é adequado para o pré-natal. Nessa epoca, existiam incidencias radiologicas para verificar a posição do bebe, para saber o sexo, e dar os primeiros diagnosticos caso necessários.

É claro que podendo evitar, é o melhor, e hoje todo o pré-natal é feito no ultrassom. Os setores devem ter por lei de segurança, placas avisando que se houver suspeita de gravides deve avisar ao medico.

Dito isto, para ilustrar o perigo que é o manuseio indiscriminado de aparelhos radiológicos, posto a baixo o vídeo do CONTER, entitulado A Revista da Morte. Este mostra o uso do equipamento Body Scan, que é usado principalmente em presideos para inibir a entrada de armas, equipamentos e drogas escondidas. O uso do mesmo também poderia ser seguro caso estivesse sendo manuseado por profissionais qualificados, em ambiente apropriado. O Fiscal do CONTER, Josiel Oliveira, irá traçar ao longo do vídeo as condições minimas para que esse equipamento estivesse sendo usado também com segurança. Fica aqui, o alertade que o maior inimigo nao é a radiação, e sim a IGNORÂNCIA! 

Mito nº6: Gestantes Radiologistas precisam ser afastadas do trabalho?

Essa é uma discussão gerada entre os setores de Segurança do Trabalho e Radiologia. Isso por que a portaria 453, que regulamenta a profissão, diz em seu item 2.13(II), que a profissional gestante não precisa ser afastada do trabalho, e dita procedimentos, como: Mudança de função ao modo de não receber dose superior de 2mSv na superfície do abdome e, durante o período de gestação, função esta deverá ser com o mesmo nível de formação. Tornando com isto, pouco provável que a dose adicional no embrião ou feto exceda cerca de 1mSv neste período.

Na Segurança do Trabalho, que se guia principalmente pelas Normas regulamentadoras da CLT, a NR32 “Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde”, diz em seu item 32.4.4.:

“Toda trabalhadora com gravidez confirmada deve ser afastada das atividades com radiações ionizantes, devendo ser remanejada para atividade compatível com seu nível de formação.”

A NR32 diz ainda que a profissional deve ser afastada das atividades que envolvam exposição às radiações ionizantes, porém o cargo remanejado deve ser compatível a sua formação, não podendo ter rebaixamento de função. Em resumo a legislação vigente garante que:

- Haja a mudança de função ao modo de não receber dose superior de 2 mSv na superfície do abdome durante o período de gestação, função esta deverá ser com o mesmo nível de formação.

- Após retorno da licença-maternidade, garantido o mesmo cargo.

- Não haver redução do salário durante mudança de função.

- Licença-maternidade de 120 dias, podendo ser prorrogado por mais quatro semanas.

- Não ser demitida sem justa causa.

- Se caso a Profissional for demitida sem ter o conhecimento de sua gravidez, a empresa deve readmiti-la ou pagar indenização pelos meses de estabilidade.

Ou seja, a legislação entende que é seguro a profissional das técnicas radiológicas continuar trabalhando, dita apenas meios de protegê-la um pouco mais, mudando-a de setor e garantindo maior segurança ao bebe. Por outro lado percebe-se alívio por parte da futura mãe (que se sente mais segura) e também do empregador (que evitará processos complicados em caso de qualquer complicação com o feto) após a troca de função.

Acrescento que, é claro que não se terá notícia de alguma gestante que tenha reclamado por não trabalhar com radiação nesse período.

Mito nº7: Numa sala de exames de raio-x, o ambiente está "contaminado" ou "carregado" de radiação?

Isso também é um mito, a radiação é gerada e emitida apenas durante o tempo do disparo, que como ja foi dito é de menos de um segundo, a radiação secundaria também se dissipa na mesma proporção. Como o raio-x é gerado no aparelho de maneira eletromecânica, não há dentro da maquina nenhum isótopo radioativo.

Assim, a sala não é contaminada, é uma sala comum, com paredes reforçadas inclusive para proteger as áreas externas e pessoas em transito. O sinal vermelho que acende do lado de fora é para que saibam que a sala esta sendo usada e com isso não devem entrar, mas uma vez que a sala esteja aberta, não há problema algum em entrar nela. Muitas vezes, a sala de raios-x é o próprio local onde fica o técnico, se a sala fosse um ambiente contaminado isso não seria possível. 

Pela terceira e ultima vez nesse post vou dizer: Irradiar é diferente de Contaminar. Isso nada mais é do que o medo e desconhecimento que se tem sobre radiação. Toda radiação tem seu “tempo de meia vida” ou seja, o tempo que certo elemento tem em que sua energia cairá pela metade. Um raio apenas emitido, logicamente se dissipará. A radiação secundaria gerada, é calculada que a dois metros de distancia já terá sumido completamente baseado no tempo de meia vida e na lei do inverso do quadrado da distância.

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